Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição ao ar poluído, respirado por praticamente toda (99%) população mundial, traz consequências sérias para a saúde como problemas respiratórios, alergias, doenças cardiovasculares e até câncer. E os danos não param por aí. Um estudo publicado em julho no jornal científico Environmental Health Perspectives mostra que a exposição pré e pós-natal aos poluentes presentes no ar pode prejudicar o desenvolvimento de bebês. “A pesquisa aponta que crianças de mães que se expõem a altas concentrações de dióxido de nitrogênio (NO²) na gestação, principalmente no primeiro e segundo trimestres, são mais propensas a sofrer com problemas comportamentais”, afirma o Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.
Os pesquisadores ainda reportaram que a exposição ao poluente PM 2.5 mesmo após o nascimento, em crianças entre 2 e 4 anos, está associada com baixo desempenho cognitivo e comportamental. Suas micropapartículas provêm de usinas elétricas, fábricas e veículos, isto é, a poeira, a queima de combustíveis e os veículos automotores são as principais fontes desse tipo de poluente.
Para chegar a essas conclusões, o estudo agregou dados recolhidos durante a gestação de quase 2 mil mães de seis cidades norte-americanas. Graças a um modelo de última geração da poluição do ar nos Estados Unidos ao longo do tempo desenvolvido pela Universidade de Washington, os pesquisadores foram capazes de estimar a exposição das mães e crianças aos poluentes durante a gestação e o início da infância.
Os cientistas descobriram ainda que a exposição ao PM 2.5 está associada a uma maior quantidade de problemas comportamentais em meninas do que em meninos. Em contrapartida, meninos expostos ao poluente, principalmente no segundo trimestre da gestação, apresentaram maiores impactos no QI. “Existem mecanismos biológicos que ligam a inalação de poluentes pela mãe com efeitos na placenta e no desenvolvimento cerebral do feto. Já em crianças, os poluentes, quando inalados, penetram profundamente nos pulmões e entram no sistema nervoso central, podendo causar danos em áreas relevantes para o comportamento e função cognitiva, principalmente pelo fato dos primeiros anos de vida serem um momento crítico para o desenvolvimento do cérebro”, diz o especialista.
O estudo reforça a vulnerabilidade das crianças à exposição aos poluentes do ar, tanto na fase fetal quanto na infância, e destaca a poluição como um fator de risco evitável para problemas no desenvolvimento cerebral infantil. “Esses são períodos de maior desenvolvimento dos órgãos e funções do organismo”, afirma o médico.
A exposição à poluição do ar também pode provocar abortos espontâneos ou bebê natimorto, segundo outros estudos. “Uma forma de minimizar essa impacto é através da adoção de um estilo de vida saudável, principalmente por meio da alimentação com alimentos in natura como frutas, verduras e legumes, que fornecem antixoxidantes importantes para evitar danos. Também esperamos que com esse novo estudo, em combinação com as diversas outras evidências já apresentadas dos impactos da poluição na saúde do organismo, ocorra a elaboração de políticas para redução dos poluentes no ar”, finaliza Prado.
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