Filtragem e circulação de ar em locais fechados, como escritórios e apartamentos, é importante para dificultar o desenvolvimento de doenças
Entre as lições aprendidas pela ciência a partir da pandemia da Covid-19, certamente uma das mais importantes foi a maior atenção dada à relação entre a qualidade do ar interno e a saúde humana. Porque ambientes fechados, além de estarem sujeitos a contaminações virais, podem se tornar locais que afetam até mesmo a cognição das pessoas quando não há uma boa circulação ou filtragem do ar. Existe, inclusive, um termo para o problema: síndrome do edifício doente.
Identificada pela primeira vez na década de 1970, a síndrome do edifício doente consiste no diagnóstico de pessoas que sentem fadiga, coceira nos olhos, dores de cabeça, entre outros sintomas, quando estão em ambientes fechados. Ainda não existe uma resposta científica exata para o que causa exatamente essa síndrome, mas estar exposto a um ar contaminado tem muitos riscos de ser o grande problema.
O ar que você respira pode estar diminuindo a sua produtividade
Em recente entrevista à revista científica Science, o pesquisador norte-americano Joseph Allen, que comanda um projeto de pesquisa em saúde pública na Universidade de Harvard sobre “edifícios saudáveis”, explicou que estuda os efeitos dos gases tóxicos emitidos por coisas que nos parecem inofensivas, como móveis, carpetes e tintas, além do ar viciado — aquele que respiramos no mesmo espaço por um longo período de tempo, com janelas fechadas — e dos altos níveis de dióxido de carbono presentes em um ambiente.
Anos de estudos de Allen e outros pesquisadores mostraram que a má circulação do ar em edifícios prejudica nossa capacidade de pensar com clareza e criatividade. Estudo do pesquisador feito em 2016 e publicado no jornal acadêmico Environmental Health Perspectives apontou que, considerando que passamos mais de 90% de nossa vida dentro de casa, essas descobertas têm implicações para o bem-estar pessoal e econômico, já que empresas também são impactadas financeiramente quando seus funcionários não produzem o quanto deveriam por ficarem doentes.
Os voluntários do estudo foram testados em sua capacidade de pensar analiticamente e reagir a uma crise dentro de um ambiente controlado. Todos os testes foram duplo-cegos, ou seja, nem os voluntários nem a equipe do estudo sabiam as condições ambientais a que estavam sendo submetidos.
Os resultados mostraram que, quando os participantes trabalhavam em condições bem ventiladas, que reduziam os níveis de gás carbônico e compostos orgânicos voláteis (substâncias altamente tóxicas) no ambiente, eles pontuaram 61% mais do que quando trabalhavam em condições típicas de prédios de escritórios. Quando eles trabalharam dois dias nas condições ainda mais limpas, com níveis de CO2 menores e taxas de ventilação mais altas, suas pontuações aumentaram incrivelmente 101%.
Legislação e fiscalização ajudam a melhorar construções
Se os espaços em que se vive e trabalha podem trazer riscos à saúde, é preciso saber que existem regras que fiscalizam projetos, obras e construções.
A lei federal nº 13.589, de 2018, determina que estabelecimentos públicos e privados de uso coletivo que possuem ambientes de ar interior climatizado artificialmente são obrigados a implantar e manter um plano de manutenção, operação e controle (PMOC) de sistemas de climatização.
Em julho do ano passado, no auge da pandemia, uma nota técnica foi aprovada, estabelecendo que compete aos Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Creas) fiscalizar essas manutenções.
Procurado pelo infovital, o Crea-SP informou que o agravamento da pandemia fez com que o órgão “intensificasse a fiscalização relacionada às atividades de Engenharia, Agronomia, Geociências e Tecnologia, do ponto de vista de exigir sempre um profissional habilitado à frente dessas atividades.”
“Eu vejo dois grandes desafios: conscientizar a sociedade, os proprietários, e os responsáveis pelos empreendimentos, de que manutenções preventivas são necessárias e que, à frente delas, tenham sempre um profissional habilitado. Essas manutenções preventivas são importantes pois aumentam a vida útil da edificação, potencializam as possibilidades de ventilação do ar-condicionado e outros elementos constituintes”, explica o engenheiro Joni Matos Incheglu, diretor-administrativo do Crea-SP.
Com relação a novos projetos, o engenheiro diz que o Crea-SP observa mudanças nos últimos anos que estão proporcionando espaços mais arejados e abertos, que priorizam também a colocação de plantas.
“A nossa percepção em relação aos movimentos na engenharia, nos designers de interiores, é que os ambientes estão se tornando mais acolhedores, inclusive, por causa do aumento do home office. Nesse sentido, há alguns movimentos quebrando alguns paradigmas antigos, unindo o conforto ao ambiente profissional. Isso tem acontecido sim e é perceptível. Já era, inclusive, uma tendência. Porém, a pandemia veio acelerar e lançar luz sobre isso”, complementa Incheglu.
Dois passos para melhorar o ar interno
O médico Dr. Wilson Rondó Jr., especialista da Jolivi Natural Health, recomenda algumas alternativas que vão ajudar a limpar o ambiente interno. Entre elas, está deixar sua casa sempre ventilada para que o ar seja renovado e cultivar plantas que vão purificar o ambiente.
No programa Plantas & Bem-Estar, a nutricionista Lara Gabriela Cerqueira também detalha outras plantas que são mais eficazes que remédios.
Referências:
Allen JG, MacNaughton P, Satish U, Santanam S, Vallarino J, Spengler JD. Associations of Cognitive Function Scores with Carbon Dioxide, Ventilation, and Volatile Organic Compound Exposures in Office Workers: A Controlled Exposure Study of Green and Conventional Office Environments. Environ Health Perspect. 2016 Jun;124(6):805-12. doi: 10.1289/ehp.1510037. Epub 2015 Oct 26. PMID: 26502459; PMCID: PMC4892924.